Era uma vez uma garota que acredita em contos de fadas e em belos romances, que sonha com seu príncipe, com dragões e gnomos.
Que conversa com fantasmas e que tem seus próprios fantasmas.
Mas que tem os pés bem ancorados ao chão.
Era uma vez uma garota, não muito comum, para alguns exótica, para outros misteriosa, ou diferente.
Era uma vez uma garota, que passou por muita coisa, e foi mais além do que pensou que podia.
Era uma vez uma garota que tropeça, cai, levanta. E que desfilou na passarela, quebrou o salto, riu e consertou seus sapatos.
Era uma vez uma garota que quer conhecer o mundo, e que ainda espera e sonha por isso.
Que enfeitiça quadros e devorava livros.
Que gosta de brincar com palavras.
Era uma vez uma eterna sonhadora.

Ciclo

Girando, girando, girando,
como uma trapezista no ar.
Voar é maravilhoso, excitante, perigoso.
Um movimento, a expectativa, o medo.
Girando, girando, girando,
de cabeça para baixo,
de cabeça para cima,
com as mãos soltas no ar.
Girando, girando, girando,
frente, traz, frente, solta!
Cambalhota, mortal, êxtase!
Subindo as escadas, mãos e pés suados,
girando, girando, girando.



(...)
A fênix virou fogo.
A rosa vermelha floresceu.
A fênix virou fogo.
A borboleta azul voou.
A fênix esta em chamas...

Inconsciente

Na meia-luz, tentáculos de sombra
me seduzem amargamente,
sussurram meus enigmas
e sorriem como o gato listrado de Alice.
Corre, corre, corre Coelho!
Os tentáculos irão lhe alcançar!
Espere! Estou curiosa.
Não sou a Rainha das Cartas,
Mas a cartada final é minha;
Será?
Chapeleiro, me passe a xícara de chá.

Felicidade Completa

A felicidade eterna, realmente existe?
“... E foram felizes para sempre”?
Não, acho que não. E nem deveria.
Seria utópico acreditar.

A vida é feita de momentos,
uns alegres, outros, nem tanto.

Momentos,
de intensa e completa felicidade,
em que os problemas tornam-se irrelevantes,
únicos e inesquecíveis momentos.

Momentos,
de dor e introspecção,
de movimentos e mudanças,
únicos e inesquecíveis momentos.

Ambos são mais do que necessários.
Pois esses momentos nos fazem desejar mais,
que dão sentido à vida,
que nos impulsionam a traçar metas.

Os maus momentos nos fazem desejar os bons.
Movimentando-nos a buscar por novos.
Os bons momentos, sempre queremos repeti-los.
Para sentir, mais uma vez, felicidade completa.

Uma felicidade completa existe,
e é muito mais significativa do que a eterna,
porque há conquistas e mudanças, transcendência,
e não o marasmo do “... E foram felizes para sempre”.

Personas

Sou uma fada.
Que vive de sonhos e fantasias.
Uma fada pequena com asas enormes.
De olhos brilhantes e inocentes.

Sou uma vampira.
Despertando apenas á noite.
Poderosa vilã que vive nas sombras.
Com um olhar misterioso e sedutor.

Sou um fantasma.
Que desliza silenciosa e invisível em casa.
Que diz a verdade da forma mais fria.
Olhando tudo, melancólica e cansada.

Sou uma esfinge.
Um enigma para mim e para os outros.
Vou me devorando e devorando-os aos poucos.
Vesga.

Sou um pegasus.
Que pode voar alto e correr no chão.
Que dá formato às nuvens, mas tropeça em pedras.
Que pode ver o possível, e também o impossível.

Sou uma fênix.
Que morre no fogo e renasce das cinzas.
Que muda e se reconstrói do nada.
Com olhos velhos e novos olhares.

Sou uma louca.
Com os braços presos numa camisa de força.
Que viaja e não sai do lugar.
E olhos que enxergam para dentro.

Sou um relógio.
Com ponteiros desregulados.
Os minutos passam rápido e as horas se arrastam.
Pisco, “tic”, pisco, “tac”.

E eu sou.
E também não sou, vou misturando.
Sendo e deixando de ser.
Com olhos coloridos e dispares.

Interrogação

Onde saímos da estrada?
Onde não vemos a placa?
Onde bati meu carro?
Eu não tenho um mapa.
Guardo os pontos de referencia.
Acho que anotei algo errado.
Vou rasgar minhas poesias.

Fênix

Nua.
Sentindo meus pés descalços sob as pedras.
Há quanto tempo?
Finalmente sinto, de verdade.
Meus pés doem.
O ar abafado, carregado de poeira,
acoita o meu corpo.
Há quanto tempo?
Sufoca-me.
Minha garganta seca.
Um vento frio, com cheiro de chuva,
toca em mim.
As gotas de chuva vêem como lágrimas,
lavam meu corpo,
Abro meus olhos.
Estou vestida de quimeras.
Há quanto tempo?
O que é real?
Um futuro dentro de uma bola de cristal?
Não, o escuro.
Não sei descrever o que vejo.
Não importa.
Só quero dar mais um passo para frente.
Sair deste lugar.
Uma fênix.

Águas profundas

Trancada num quarto branco.
Só.
Atormentada por quimeras.
O que eu sinto? Não sei,
vai além da minha razão.
Me afogo,
sufocada por meu mar,
tonta pelas ondas violentas,
quebrada, perdida,
presa pela maré.
Engulo água com sabor de lagrimas.
Angustia.
Quero emergir.
Minha vontade, ainda que fraca, se mostra.
Apenas uma mão consegue me alcançar.
Ele atravessa, me abraça e diz:
“Tudo vai ficar bem”.
E não importa o motivo,
ou se há mais de um.
O toque, a voz, a certeza.
Quero apenas ele.
Minha vontade desesperada,
e um amor quente,
é o que me faz emergir.
As vezes tudo parece tão difícil.
Fantasmas, de toda natureza,
me perseguem.
Roubam minha energia.
Complexos e abstratos,
ou reais e imateriais.
Por quanto tempo carregarei tanto peso?
Eles vão e vêem, como ondas.
Ele me amanhece, me faz querer abrir os olhos,
me aquece, é meu sol.
Me ajuda á brilhar á noite
e a acalmar meu mar.